domingo, 29 de janeiro de 2012

À sombra do salgueiro...


À sombra do salgueiro...

Porque fosses o sonho de ventura
Que eu tanto ambicionara e conseguira,
Nunca julgara, nem jamais previra
O transe cruel que agora me tortura.

Só a extensão de um grande mal sem cura
Poderia mostrar que me iludira;
Que a ventura na vida é uma mentira
Sempre falaz àquele que a procura.

Louco de dor, o espírito delira
E a Castália das lágrimas apura
A emoção de infortúnio que me inspira...

Mas foi tamanha a minha desventura,
Que pendurei, muda e quebrada, a lira
No salgueiro da tua sepultura.

Da Costa e Silva

domingo, 15 de janeiro de 2012

...e ela ainda está lá


...e ela ainda está lá, meu pai,
com todo o brilho de antes,
como eu a via, há tanto tempo atrás.

Me fez lembrar meu caderninho,
onde escrevia sonhos e rabiscava ilusões.

E você estava lá. Na nossa vida.
Uma presença tão grande,
como grande hoje é a saudade.

De repente, olho para o céu,
e vejo aquela estrela brilhante -
aquela mesma - que me fez sonhar.

... e hoje, meu pai, acordei de vez:
- ela é a mesma! Sempre esteve ali.

Nós é que mudamos. Você partiu. A ficha caiu.
O tempo está no mesmo lugar e nós...

...passamos por ele, perdendo pelo caminho
o encanto, o brilho e os sonhos.
E encontrando no hoje, só saudade.


Regina Helena

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

MEU CORAÇÃO


MEU CORAÇÃO

O triste coração que eu trago é tão velhinho
E tanto tem amado, e tem vivido tanto,
Que não suporta mais o fogo de um carinho,
Nem de outro coração o cálido quebranto.

Às vezes, alta noite, ouço-o chorar sozinho,
Do meu peito escondido ao último recanto,
Assim como quem sente a dor de algum espinho
Que o fere, e quer leni-la, ao afoga-la em pranto.

É ele! É o coração tristíssimo, que chora
De saudade de alguém, que o fez antegozar
Um grande, um santo amor, e que se foi embora.

E escuto-o palpitar, tão leve, que parece
Um ser que sente frio, e treme, a murmurar,
Num soluço infinito, os restos de uma prece...

Alceu Wamosy
In: Poesia e Prosa