domingo, 27 de janeiro de 2013

MORTE POR ABSTRAÇÃO



Há uma pequena morte
- flor diária - um tributo.
A vida é feita de açucenas
e sucessivas mortes -
Morre-se uma vez por minuto.

Mas há outra; é aquela
com que cada um de nós,
na foto do após-após,
pra viver se suicida um pouco.
Ao léu do planeta louco.

E a morte com que eletro -
cutamos, na prisão do peito,
uma criatura, um sonho
que é preciso ser desfeito
com um simples não (secreto)?

A racionada morte
com que, ao invés de morrer,
como cravo em botão,
matamos as coisas  e os seres
por simples abstração?

Cassiano Ricardo
In A Difícil Manhã 

sábado, 26 de janeiro de 2013


“O corpo é nossa principal memória.
Muitas vezes é ele que se lembra apesar do esquecimento.
Basta um vento ou uma música ou um rosto perdido no
alpendre para que a pele saiba recordar inclusive do futuro.”

Fabrício Carpinejar

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

SÃO FRANCISCO DE ASSIS


Aquele que trabalha com suas mãos é um operário.
Aquele que trabalha com suas mãos e sua cabeça é um artesão.
Aquele que trabalha com suas mãos, sua cabeça e seu coração é um artista.

São Francisco de Assis

A FLOR TEM LINGUAGEM ...



A flor tem linguagem de que a sua semente não fala
A raiz não parece dar aquele fruto
Não parece que a flor e a semente sejam da mesma linguagem
Retirada a linguagem
A semente é igual a flor
A flor igual a fruto
Fruto igual a semente
Destino igual a devir.
E era o que se pedia: igual.


Almada Negreiros

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

POEMA DO TEMPO



Tem o importante que sabe que é comum

Tem o comum que se acha importante
Tem o diamante que sabe que é pedra
Tem a pedra que se acha diamante
Enquanto isso, o tempo passa levando
Comuns, importantes, pedras e diamantes.

Ricardo Azevedo
In Ninguém sabe o que é um poema 
 

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

domingo, 13 de janeiro de 2013

KHALIL GIBRAN



"Sinto-me como uma semente no meio do inverno,
 sabendo que a primavera se aproxima.
 O broto romperá a casca e a vida que ainda 
dorme em mim haverá de subir para a superfície,
 quando for chamada.
 O silêncio é doloroso, mas é no silêncio que
 as coisas tomam forma, e existe momentos em
 nossas vidas que tudo que devemos fazer é
 esperar.
 Dentro de cada um, no mais profundo no ser, 
está uma força que vê e escuta aquilo que não
 podemos ainda perceber. Tudo o que somos
 hoje nasceu daquele silêncio de ontem. 
Somos muito mais capazes do que pensamos.
 Há momentos em que a única maneira de aprender
 é não tomar qualquer iniciativa, 
não fazer nada. Porque, mesmo nos momentos de 
total inação, esta nossa parte secreta está 
trabalhando e aprendendo. 
Quando o conhecimento oculto na alma se manifesta,
 ficamos surpresos conosco mesmos, e nossos 
pensamentos de inverno se transformam em flores,
 que cantam canções nunca antes sonhadas.
 A vida sempre nos dará mais do que 
achamos que merecemos".

__Khalil Gibran__

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

CITAÇÃO




SÓ A FANTASIA PERMANECE SEMPRE JOVEM;
O QUE NUNCA ACONTECEU NUNCA ENVELHECE.

FRIEDRICH SCHILLER

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

A POESIA CONTINUA SEMPRE PRESENTE...



A poesia continua sempre presente:
Às vezes apenas num verso
e ultimamente cada vez mais no silêncio.

Jorge de Sousa Braga

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

A RUA



A rua é um rio de pessoas e de vozes,
um rio terrível que me vai levando,
mas estou só, como se está na infância...
ou quando a morte vai se aproximando...

No ar, agora, que distante aroma?
Decerto eu sem saber pensei em ti...
E um vôo de andorinha na distância
é a minha saudade que eu te mando.

Mas tu, nesses tumultuoso rio,
não fica nunca ao fundo da lembrança
como no seio azul de um redoma...

Tudo se afasta nessa correnteza
onde uma flor,às vezes, fica presa 
e um claro riso sobre as águas dança!


Mario Quintana,
In Baú de Espantos

domingo, 6 de janeiro de 2013

CASTELOS ENCANTADOS



Que podemos fazer, se as nuvens
tecem no azul castelos encantados?
Ou serão as sombras dos barcos sem rota,
esperando os marinheiros perdidos
e desvairados do apelo do mar?
Que fazer quando, de olhar assombrado,
é infrutífera qualquer tentativa
de suspeitar dos sentidos?

Graça Pires,
in Conjugar afectos



A NOSSA CASA É UM LUGAR AO VENTO...



A nossa casa é um lugar ao vento, mas buscamos
o absoluto, a bárbara verdade duma onda sobre a praia.

Tudo nos pertence porque guardamos na memória
os restos do apego às coisas que tivemos, os gestos
de gratidão que vimos no coração dos dias violentos.

Esta época não é a nossa. Subverte os conceitos
do ânimo, os desígnios legítimos de plenitude.

Mas por isso ainda somos a centelha que arde devagar
na paisagem estreita de árvores estóicas, em momentos
de tempestade, na consciência das opções sublevadas.

Vieira Calado,
in Transparências