quarta-feira, 31 de outubro de 2012

POMAR



no augido tempo
frutas
as estações renovam

e casca e polpa
as fazem
bem nascidas

e alma e sumo
na umidade
assomam

e já carnosas
rudes
se maturam

e eu as pinto
rubras
como rosas

Antonio Fernando de Franceschi
in Sal 

terça-feira, 30 de outubro de 2012

RETRATO DO POETA QUANDO JOVEM



Há na memória um rio onde navegam
Os barcos da infância, em arcadas
De ramos inquietos que despregam
Sobre as águas as folhas recurvadas.

Há um bater de remos compassado
No silêncio da lisa madrugada,
Ondas brancas se afastam para o lado
Com o rumor da seda amarrotada.

Há um nascer do sol no sítio exato,
À hora que mais conta duma vida,
Um acordar dos olhos e do tacto,
Um ansiar de sede inextinguida.

Há um retrato de água e de quebranto
Que do fundo rompeu desta memória,
E tudo quanto é rio abre no canto
Que conta do retrato a velha história.

José Saramago
In ‘Os Poemas Possíveis

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

PERFUME



Nomearás
a abelha. Do mel
só conheces
o perfume, a pálida
rosa dos favos
em botão. O gesto
suspenso à espera
da mão esquiva
que o sustente.


Albano Martins

domingo, 28 de outubro de 2012

ÉRICO VERÍSSIMO



Quando os ventos de mudança sopram,
umas pessoas levantam barreiras, 
outras constroem moinhos de vento.

Érico Veríssimo

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

GRACILIANO RAMOS



" Comovo-me em excesso , por natureza ou por ofício .
Acho medonho alguém viver sem paixões ."

Graciliano Ramoshospedagem gratuita de sites

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

SIGMUND FREUD



“Quando a dor de não estar vivendo for maior que
o medo da mudança, a pessoa muda.”

―Sigmund Freud

terça-feira, 23 de outubro de 2012

CITAÇÃO


As palavras estão cheias de falsidade ou de arte; 
o olhar é a linguagem do coração.

William Shakespeare
 

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

CITAÇÃO



“Num mundo onde a vida vai
tão naturalmente ao
encontro da vida,
onde as flores se unem às flores
até no próprio leito do vento,
onde o cisne conhece todos os cisnes,
só os homens constroem a sua solidão."


Antoine de Saint-Exupéry,
 in Terra dos Homens

domingo, 21 de outubro de 2012

JOSÉ SARAMAGO



"Mesmo que a rota da minha vida me conduza a uma estrela,
nem por isso fui dispensado de percorrer os caminhos do mundo."

José Saramago

OS SINOS



(excerto)

Escuta: Em núpcias vão cantando os sinos,
Áureos sinos!
Quantos mundos de ventura seu tanger nos prefigura!
No ar da noite, embalsamado,
Como entoam seu relevo abençoado!
Tons dourados, lentas notas
Concordantes...
E tão límpido poema flutua
Para as rolas, que o escutam, divagantes
Vendo a lua!
Volumoso, vem das celas retumbantes
Todo um jorro de eufonia
Que se amplia,
"O futuro é belo e bom!"
Clama o som
Que arrebata, como em êxtase divinos,
No balanço repicante que lá soa,
Que tão bem, tão bem ecoa
Na vibrante voz dos sinos, sinos, sinos,
Carrilhões e sinos,sinos,
No rimado consonante som dos sinos!

Edgar Allan Pöe
Tradução de Mílton Amado

sábado, 20 de outubro de 2012

CESSA O TEU CANTO


Cessa o teu canto!
Cessa, que, enquanto
O ouvi, ouvia
Uma outra voz
Com que vindo
Nos interstícios
Do brando encanto
Com que o teu canto
Vinha até nós.

Ouvi-te e ouvi-a
No mesmo tempo
E diferentes
Juntas cantar.
E a melodia
Que não havia.
Se agora a lembro,
Faz-me chorar.

Fernando Pessoa,
 in 'Cancioneiro'

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

HERMANN HESSE



Entre os seres humanos, mesmo se intimamente unidos,
permanece sempre aberto um abismo que apenas o amor
pode superar, e mesmo assim somente como uma
passagem de emergência.

Hermann Hesse 

JORGE LUIS BORGES



"Dos diversos instrumentos do homem, o mais assombroso é,
indubitavelmente, o livro. Os outros são extensões do seu corpo.
O microscópio e o telescópio são extensões da vista; o telefone 
é o prolongamento da voz; seguem-se o arado e a espada, extensões
do seu braço. Mas o livro é outra coisa: o livro é uma extensão
da memória e da imaginação. 
Em «César e Cleópatra» de Shaw, quando se fala da biblioteca de
 Alexandria, diz-se que ela é a memória da humanidade. O livro 
é isso e também algo mais: a imaginação. Pois o que é o nosso 
passado senão uma série de sonhos? Que diferença pode haver 
entre recordar sonhos e recordar o passado? Tal é a função que
 o livro realiza.
(...) Se lemos um livro antigo, é como se lêssemos todo o tempo 
que transcorreu até nós desde o dia em que ele foi escrito. 
Por isso convém manter o culto do livro. O livro pode estar
 cheio de coisas erradas, podemos não estar de acordo com as 
opiniões do autor, mas mesmo assim conserva alguma coisa de 
sagrado, algo de divino, não para ser objeto de respeito 
supersticioso, mas para que o abordemos com o desejo de 
encontrar felicidade, de encontrar sabedoria"

(Jorge Luís Borges, in 'Ensaio: O Livro')

terça-feira, 16 de outubro de 2012

PRIMAVERA E VIDA



Manhã alegre,
canto de cigarra,
sol colorido,
natureza em flor.
É primavera nas nuvens brancas,
no azul festivo.
Borboleta
perpassa o ar
perfumado.
Pousa
na árvore
revestida
de brotos verdes.
É primavera
lá fora,
no pássaro que voa
beijando a flor,
no inseto que zumbe,
nas folhas clorofiladas,
nas pessoas...
É primavera.
Alegria.
Vida...

Delores Pires
In A Estrela e a Busca

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

EM MÃOS FECHADAS...



Em mãos fechadas
quis preservar o infinito
elas não se abriram
continham uma vida sem além
cerrada sobre o finito.
Soluça o engano
lágrimas tão desatinadas
escorrendo na face do nada.
Nada disse. O que diria
à surdez de um destino?
Lívida parada fiquei
e lentamente me afastei
como se apaga o som de um sino.

Dora Ferreira da Silva,
in Cartografia do Imaginário (poemas)

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

O TESOURO DAS HORAS



A cada novo dia,
a vida me oferece
o tesouro das horas,
inteiramente minhas.

Helena Kolody
in Correnteza

terça-feira, 9 de outubro de 2012

MOSAICO



És mosaico de seixos rolados de longe
Na torrente da vida.
Até o gesto, até a fala, até o semblante
Lembra alguém, é de alguém que se repete.
Tudo em ti, antes de ti, já foi vivido.

Helena Kolody
In Luz Infinita

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

VOLTAIRE



As paixões são os ventos que enfunam
as velas dos barcos, elas fazem-nos 
naufragar, por vezes, mas sem elas,
eles não poderiam singrar.

 Voltaire 

FERNANDO PESSOA



Enquanto não superarmos 
a ânsia do amor sem limites, 
não podemos crescer 
emocionalmente.

Enquanto não atravessarmos 
a dor de nossa própria solidão, 
continuaremos 
a nos buscar em outras metades. 
Para viver a dois, antes, é 
necessário ser um.

Fernando Pessoa

terça-feira, 2 de outubro de 2012

SOU O QUE SEREI



Às vezes me abandono inteiramente a saudades
estranhas
E viajo por terras incríveis, incríveis.
Outras vezes porém qualquer coisa à-toa –
O uivo de um cão na noite morta,
O apito de um trem cortando o silêncio,
Uma paisagem matinal,
Uma canção qualquer surpreendida na rua –
Qualquer coisa acorda em mim coisas perdidas no tempo
E há no meu ser uma unidade tão perfeita
Que perco a noção da hora presente, e então

Sou o que fui.
E sou o que serei.


Augusto Frederico Schmidt

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

INFINITO PRESENTE



No movimento veloz
de nossa viagem,
embala-nos a ilusão
da fuga do tempo.

Poeira esparsa no vento,
apenas passamos nós.
O tempo é mar que se alarga
num infinito presente.


Helena Kolody
in ‘Viagem no Espelho’