quinta-feira, 23 de julho de 2015

FIM DE JORNADA


 
 
Caminhar ao encontro da noite.
Como o camponês regressa ao lar.
Após um longo dia de verão.
 
Sem pressa ou cuidado.
Na tarde ouro e cinza.
Sozinho entre os campos lavrados.
E as colinas distantes.
 
Caminhar, ao encontro da noite.
Sem pressa ou cuidado.
A noite é somente uma pausa de sombra.
Entre um dia e outro dia.
 
 
Helena Kolody,
in Vida Breve

EXCERTO LITERÁRIO



Viajar no mundo é também viajar no passado do mundo.
É descobrirmos traços visíveis do passado, em presença
de sítios os mais diversos, tanto monumentais como
assinalados por humildes pedras. A cada etapa,
o viajante é convidado a fazer-se historiador.

Jean Chesneaux, L'Art du Voyage.
 Paris, Bayard, 1999. p 101

quinta-feira, 16 de julho de 2015

EXCERTO LITERÁRIO



Lembrando o nascimento de meu neto Felipe

...
E então eu me inclinei, ergui-o nos braços,
apertei-o contra o peito e senti que estava
abraçando e beijando não apenas o meu primeiro
neto, mas também meus dois (duas) filhos (as), 
meus pais,minha mulher (meu marido)
e a mim mesmo (a).

Érico Veríssimo (e eu),
in Solo de Clarineta



quarta-feira, 15 de julho de 2015

EXCERTO LITERÁRIO




O pior medo é o medo de nós próprios
 e a pior opressão  é a auto-opressão. 
Antes de se tentar lutar contra qualquer
 outra coisa, penso que é importante 
lutarmos  contra ela e conquistarmos
 a liberdade de não termos
 medo de nós próprios.

José Luís Peixoto, 
 em  ‘Diário de Notícias’ (2003)

sábado, 11 de julho de 2015

PEÇO A PAZ E O SILÊNCIO




Peço a paz 
e o silêncio

A paz dos frutos
e a música
de suas sementes
abertas ao vento.

Peço a paz
e meus pulsos traçam na chuva
um rosto e um pão.

Peço a paz
silenciosamente
a paz, a madrugada em cada ovo aberto
aos passos leves da morte.

A paz peço,
a paz apenas
o repouso da luta no barro das mãos
uma língua sensível ao sabor do vinho
a paz clara,
a paz quotidiana
dos actos que nos cobrem
de lama e sol.

Peço a paz
e o silêncio.


Casimiro de Brito,
 in "Jardins de Guerra", 1966