NUVEM, caravela branca
no ar azul do meio dia:
— quem te viu como eu te via?
Rolaram trovões escuros
pela vertente dos montes.
Tremeram súbitas fontes.
Depois, ficou tudo triste
como o nome dos defuntos:
mar e céu morreram juntos.
Vinha o vento do mar alto
e levantava as areias,
sem vêr como estavam cheias
de tanta coisa esquecida,
pisada por tantos passos,
quebrada em tantos pedaços!
Por onde ficou teu corpo,
— ilusão de claridade —
quando se fez tempestade?
Nuvem, caravela branca,
nunca mais há meio dia?
(Já nem sei como te via!)
Cecília Meireles ,
in Viagem