sexta-feira, 19 de outubro de 2012

JORGE LUIS BORGES



"Dos diversos instrumentos do homem, o mais assombroso é,
indubitavelmente, o livro. Os outros são extensões do seu corpo.
O microscópio e o telescópio são extensões da vista; o telefone 
é o prolongamento da voz; seguem-se o arado e a espada, extensões
do seu braço. Mas o livro é outra coisa: o livro é uma extensão
da memória e da imaginação. 
Em «César e Cleópatra» de Shaw, quando se fala da biblioteca de
 Alexandria, diz-se que ela é a memória da humanidade. O livro 
é isso e também algo mais: a imaginação. Pois o que é o nosso 
passado senão uma série de sonhos? Que diferença pode haver 
entre recordar sonhos e recordar o passado? Tal é a função que
 o livro realiza.
(...) Se lemos um livro antigo, é como se lêssemos todo o tempo 
que transcorreu até nós desde o dia em que ele foi escrito. 
Por isso convém manter o culto do livro. O livro pode estar
 cheio de coisas erradas, podemos não estar de acordo com as 
opiniões do autor, mas mesmo assim conserva alguma coisa de 
sagrado, algo de divino, não para ser objeto de respeito 
supersticioso, mas para que o abordemos com o desejo de 
encontrar felicidade, de encontrar sabedoria"

(Jorge Luís Borges, in 'Ensaio: O Livro')

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