domingo, 27 de janeiro de 2013

MORTE POR ABSTRAÇÃO



Há uma pequena morte
- flor diária - um tributo.
A vida é feita de açucenas
e sucessivas mortes -
Morre-se uma vez por minuto.

Mas há outra; é aquela
com que cada um de nós,
na foto do após-após,
pra viver se suicida um pouco.
Ao léu do planeta louco.

E a morte com que eletro -
cutamos, na prisão do peito,
uma criatura, um sonho
que é preciso ser desfeito
com um simples não (secreto)?

A racionada morte
com que, ao invés de morrer,
como cravo em botão,
matamos as coisas  e os seres
por simples abstração?

Cassiano Ricardo
In A Difícil Manhã 

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