sábado, 18 de agosto de 2012

BIOGRAFIA DOS MEUS OLHOS




Estes meus olhos que um dia perceberam vagamente
O colorido, as formas,
Que aprenderam a beleza do vôo das aves e a amplidão das campinas,
Os meus olhos que um dia tão contentes
Transmitiram à minha alma
As palavras de um amor adolescente,
Os meus olhos que mais tarde encantados
Viram os meus braços receberem
O que o meu ventre havia gerado.
Estes meus olhos que choraram tantas vezes escondido,
Que tantas vezes se afogaram no pavor
E num medo indefinido,
Estes olhos que um dia sorriram
De frescura e esperança.
Estes meus olhos cansados
De tristezas prematuras
Rasos de doídas lágrimas
Sobre berços e sepulturas
Foram os que aprenderam duramente
O que era o pranto e a mágoa
Na destruição do desejo da vida mais ardente.
Estes meus olhos que agonizam agora sofridos, envelhecidos
Se apagarão na misteriosa noite
Com a derradeira lágrima pelos desolados e os vencidos!

Adalgisa Nery,
in Cantos da Angústia

Nenhum comentário:

Postar um comentário