terça-feira, 20 de novembro de 2012

A MORTE ABSOLUTA




Morrer. 
Morrer de corpo e de alma. 
Completamente. 

Morrer sem deixar o triste despojo da carne, 
a exangue máscara de cera, 
Cercada de flores, 
que apodrecerão — felizes! — num dia, 
Banhada de lágrimas 
Nascida menos da saudade do que do espanto da morte. 

Morrer sem deixar porventura uma alma errante... 
A caminho do céu? 
Mas que céu pode satisfazer teu sonho de céu? 

Morrer sem deixar um sulco, um risco, uma sombra, 
A lembrança de uma sombra 
Em nenhum coração, em nenhum pensamento, 
Em nenhuma epiderme. 

Morrer tão completamente 
Que um dia ao lerem o teu nome num papel 
Perguntem: “Quem foi?...” 

Morrer mais completamente ainda 
— Sem deixar sequer esse nome. 


MANUEL BANDEIRA 
In Lira dos  cinquent’anos

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