quinta-feira, 3 de julho de 2014

ATAVISMO




Quando estou triste, e só, e pensativa assim,
É a alma dos ancestrais que sofre e chora em mim.
É a angústia secular duma raça oprimida
Que vem da profundeza e turva a minha vida.

Certo, guardo latente e difusa em meu ser,
A lembrança remota e má dos dias amargos
Que eles viveram sem a ansiada liberdade.
E eu que amo tanto, tanto, os horizontes largos,
Lamento não ser águia ou condor, para voar
Até onde a força da asa alcance a me levar,
Na conquista do império azul da imensidade.
Oh! Quantas vezes eu, humilde e pequenina
Ante a extensão agreste e verde da campina,
Não sei dizer por que, deslumbrada, senti
Saudade singular da estepe que não vi!

Pois até o marulhar misterioso e sombrio
Da água escura com a imponência dum rio,
Lembra, sem querer, numa impressão falaz,
O soturno Dnipró cantado por Tarás ...

Por isso é que eu surpreendo, em alta intensidade,
Acordada em meu sangue, a tara da saudade.


Helena Kolody
In ‘Luz Infinita’

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