terça-feira, 2 de dezembro de 2014

ESTA GENTE

(imagem Tarsila do Amaral - Operários)


Esta gente cujo rosto 
Às vezes luminoso 
E outras vezes tosco 
 
Ora me lembra escravos 
Ora me lembra reis 
 
Faz renascer meu gosto 
De luta e de combate 
Contra o abutre e a cobra 
O porco e o milhafre 
 
Pois a gente que tem 
O rosto desenhado 
Por paciência e fome 
É a gente em quem 
Um país ocupado 
Escreve o seu nome 
 
E em frente desta gente 
Ignorada e pisada 
Como a pedra do chão 
E mais do que a pedra 
Humilhada e calcada 
 
Meu canto se renova 
E recomeço a busca 
De um país liberto 
De uma vida limpa 
E de um tempo justo 

 
 
 Sophia de Mello Breyner Andresen,
 in “Geografia”,


Nenhum comentário:

Postar um comentário