quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

EXCERTO LITERÁRIO





Minha experiência humana era curta; sem um bom ângulo
de luz nem palavras adequadas, não aprendia tudo.
A natureza descobria-me,visíveis, tangíveis, uma 
porção de maneiras de existir de que nunca me aproximara.
Admirava o isolamento soberbo do carvalho que
dominava o parque-paisagem; apiedava-me da solidão em
comum das folhinhas de relva. Aprendi as manhãs
ingênuas, e a melancolia crepuscular, os triunfos e 
os declínios, as renovações e as agonias.
Algo um dia se acordaria em mim com o perfume das
madressilvas.Todas as noites ia sentar-me entre as
mesmas urzes e contemplava as ondulações azuladas 
das colinas; todas as tardes. o sol deitava-se
atrás do mesmo monte: mas os vermelhos, os rosa,
os carmins, os violeta não se repetiriam nunca...

Simone de Beauvoir,
in Memórias de uma Moça bem-comportada



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