domingo, 2 de novembro de 2014

ELEGIA




Destes obscuros canteiros da alma,
destes bosques do coração,
desta melancolia da morte
sobem as vozes, com ramos de lágrimas.


Assim partis,
sem terras, ares, mares:
só pela invisibilidade,
sem saberdes sequer que estais partindo.


Não nos podemos mais saudar nem despedir,
ó amigos,
nem repartir o pão da nossa mesa
e a luz dos nossos sonhos.


Sois agora como estátuas 
em solidões silenciosas,
entre solenes paredes de saudade,
em sítios suspensos do pensamento.


Mais longe que aquela nuvem.
Mais longe que qualquer céu.
Podemos pensar mais longe.
E quereríamos que um dia voltásseis,


para sermos outra vez amigos.
(Ramos de lágrimas, as vozes.) 



Cecília Meireles
In: Poesia Completa
Dispersos (1918-1964)







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