Melhor é tentar dormir...
Deixar de sentir tantas dores;
sonhar talvez com raras flores.
Afiar o olfato, o tato, a visão:
Talvez, em sonho, abrir mão
da ferrenha insana razão.
Um recanto, um carrinho
nem tão cheio, ladeira
acima, me torna imprestável:
Eu, um homem que deveria
agir sem tropeço ou penas;
só ter e abraçar um carinho!
O quê a seguir virá?
A rabugência ou a indecente
perda da cara, nobre paciência?
A lamúria cansa. O excesso
de força e razão imbeciliza.
A demência não me alcança
- mas o trôpego passar avança.
Não sou 'normal'; nunca ser
pretendi. Mas um mínimo
de anímica força preciso ter!
Exausto e só, (de)escrevo
- e desconfio do meu destino,
afazeres, cansaço e sorte:
A par dos anos restantes,
à espreita na esquina, os olhos
- que não temo - da morte:
Vivo e sobrevivo como nasci.
Sem sustos, medos passados;
com pés não mais descalços.
Caminho sem pressa. Movimento
a prosa: alpendre de versos áulicos!
Alegre ou triste, só busco abraços.
À criança que trago no peito grito:
"Avante! Atrás, não só vem gente."
Há vida: reverso e maior advento.
*Jairo De Britto,
em "Dunas de Marfim"