sábado, 4 de outubro de 2014

XV




Para Érico Veríssimo

O dia abriu seu pára-sol bordado 
De nuvens e de verde ramaria. 
E estava até um fumo, que subia, 
Mi-nu-ci-o-sa-men-te desenhado. 

Depois surgiu, no céu azul arqueado, 
A Lua — a Lua! em pleno meio-dia. 
Na rua, um menininho que seguia 
Parou, ficou a olhá-la admirado... 

Pus meus sapatos na janela alta, 
Sobre o rebordo... Céu é que lhes falta 
Pra suportarem a existência rude! 

E eles sonham, imóveis, deslumbrados, 
Que são dois velhos barcos, encalhados 
Sobre a margem tranqüila de um açude... 


MARIO QUINTANA 
In A Rua dos Cataventos, 1940


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